4 perrengues que passamos viajando

Para algumas pessoas, viajar é um dos maiores prazeres da vida. Alguns sonhamos com conhecer determinado destino ou viver alguma aventura e, quando planificamos, sempre pensamos que tudo vai sair conforme o esperado.

Mas, nem sempre é assim. Sobretudo no mundo das viagens, onde vários fatores diferentes acabam influenciando, como a cultura, a língua, os hábitos da população local, o transporte, a comida ou até mesmo o clima. Quem nunca se molhou por uma chuva inesperada em uma viagem?

Os perrengues de viagem acabam sendo parte da nossa aventura e, alguns deles, ficam para a lembrança. Nós já vivemos vários e vamos te contar os 4 maiores perrengues que passamos viajando até agora.

O CARRO QUEBROU NO MAIOR TÚNEL DA SUÍÇA

São Gotardo, setembro de 2020

Recém-casados, embarcamos rumo à Itália na que seria a nossa segunda lua de mel. Tínhamos planejado o roteiro perfeito pela região de Veneza, começando por Verona, com todos os hotéis e passeios já reservados. Acordamos às 05:00 da manhã e partimos rumo à terra da pizza e do gelato. A viagem da Suíça até a Itália é espetacular, passando por lagos cristalinos e pelos Alpes. 

Faltando mais ou menos uns 100 km para chegarmos na fronteira com a Itália, meu marido sentiu que alguma coisa no carro não estava bem e estava perdendo potência. Bem nesse momento, estávamos atravessando o túnel de São Gotardo, que é o terceiro maior túnel rodoviário do mundo, com 16,4 km de comprimento.

Conseguimos sair do túnel e o carro continuava perdendo força e não conseguíamos passar de 60 km/h, com carros e caminhões vindo a 120 km/h. Alguns quilômetros depois, pegamos uma saída e chegamos em um lugar chamado Biasca, onde haveria uma oficina mecânica. Lá, fizeram algumas provas no carro e constataram que seria necessário trocar a borboleta. Isso iria custar 960 francos suíços (na época, uns 5 mil reais). Era todo o dinheiro que tínhamos para a viagem, mas não podíamos ficar sem o carro e decidimos fazer o conserto.

O que disseram que ia demorar 2 horas para ser feito, acabou virando um dia. Estávamos a 190 km de casa, sem carro e sem dinheiro e teríamos que passar a noite por lá. Graças a Deus, meu marido conseguiu falar com o seguro do carro e eles pagaram um hotel para nós na cidade.

Passamos a noite lá e fomos buscar o carro, que já tinha sido consertado e estava funcionando, segundo os mecânicos. Felizes, decidimos voltar para casa e tentar esquecer o episódio. Saímos da oficina, rodamos uns 500 metros e percebemos que o problema continuava igual. Tivemos que voltar lá e eles falaram que então, provavelmente, teríamos que fazer mais consertos e que custariam bem mais. Sem dinheiro, pois já tínhamos gastado quase mil francos e o valor do conserto seria maior do que o valor do carro, decidimos que não valeria a pena e, tivemos que pegar o veículo que não funcionava bem e voltar para casa em uma viagem de uns 190 km. Graças a Deus chegamos bem. Mas, ficamos algum tempo sem carro, pois decidimos que o conserto não valeria a pena e acabamos dando o carro grátis.

DESMAIEI TRÊS VEZES EM VERONA

Realmente, eu não tive sorte ainda tentando conhecer Verona. Na primeira vez que tentamos ir para a Itália, o carro quebrou. Um ano depois, já com outro carro, tentamos fazer o mesmo roteiro e chegamos lá sem problemas automobilísticos. Mas, não conhecemos Verona, porque eu desmaiei três vezes no estacionamento da cidade. Sim!

Saímos da Suíça por volta das 5 da manhã, era começo de agosto. O caminho que passamos foi por várias montanhas dos Alpes (por trauma do túnel do perrengue anterior, decidimos fazer outra rota) e, como era muito cedo, quando cruzamos a fronteira da Suíça com a Itália, fazia 9º C. Poucos quilômetros depois, estávamos almoçando a 39º C em uma cidade italiana. A diferença de temperatura foi tão grande e, junto ao calor (para mim) extremo, comecei a passar mal. Quando chegamos no estacionamento de Verona, coloquei um pé no chão e cai. Era um subsolo e estava ainda mais abafado. Meu marido ficou desesperado, porque nunca tinha me visto desmaiar antes. Eu consegui levantar depois do primeiro desmaio e, segundos depois, voltei a cair. Em total, sofri três desmaios em poucos minutos. Graças a Deus, dois suíços que estavam por lá nos ajudaram, foram buscar água e uma Coca-Cola para mim e nos levaram até fora do estacionamento.

Chegando lá fora, eu precisava muito sentar e fui direto para a primeira cadeira que vi. Era de um café, que estava praticamente vazio. Eu estava com a água e a Coca-Cola que compraram para mim nesse mesmo café quando, a atendente, muito gentil, veio falar que tínhamos que consumir algo de lá ou sair. Meu marido explicou que eu tinha desmaiado três vezes e que o que eu estava consumindo foi comprado ali. Ela fez uma cara feia e falou que tínhamos que sair. Então, ele teve que ir comprar mais alguma coisa para eu poder ficar sentada lá um pouquinho mais, pois ainda não tinha forças de sair. No final das contas, a moça ainda acabou me trazendo uma bebida para tomar que, segundo ela, ajudaria a levantar a pressão.

Por mais que tivemos que ir embora sem conhecer a cidade de Julieta, o perrengue nos rendeu uma boa surpresa. Como estávamos indo caminho a Veneza, assim que me senti melhor seguimos até um hotel onde íamos ficar aquela noite. Lá, eu passei a tarde me recuperando e, à noite, decidimos sair para jantar na cidade vizinha, Vicenza. Um lugar encantador e rico em histórias que, de outra forma, não teríamos conhecido.

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Quem sabe algum dia consigo conhecer a cidade da Julieta sem nenhum drama, né?

PRESOS NO ESTACIONAMENTO NA REPÚBLICA TCHECA

Pilsen não é lá a cidade da República Tcheca onde mais falam inglês. Foi a primeira cidade que conhecemos no país e, desde que pisamos o pé, percebemos que ia ser difícil nos comunicar. Embora a grande maioria foi muito amável e simpática no atendimento, mesmo não falando inglês, passamos alguns perrengues lá.

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No primeiro dia, decidimos estacionar em um estacionamento particular e aberto bem localizado no centro de Pilsen. Até aí tudo bem. Deixamos o carro e fomos explorar a cidade. Quando resolvemos voltar, horas mais tarde, e fomos tentar pagar, não tinha nenhuma máquina de pagamento e tivemos que ir ao guichê. O homem que estava trabalhando lá, além de não falar inglês, não tinha intenção nenhuma de ajudar e foi extremamente mal-educado. Perguntamos se podíamos pagar lá com ele, e ele resmungava alguma coisa em tcheco que não entendíamos. Tentamos fazer gestos, meu marido oferecia o cartão com dinheiro para ele, e ele empurrava de volta para nós. Passamos muito nervoso, tentamos ver alguma outra forma de sair, mas não achamos. Então, fomos com o carro até a saída, onde estava o guichê com o senhor mal-educado, e, ali, ele aceitou o pagamento. Assim, conseguimos sair depois de um belo sufoco.

Depois de alguns dias na República Tcheca, descobrimos que em algumas cidades mais próximas da Alemanha e da Áustria, eles falam melhor o alemão (e até preferem) do que inglês. A partir daí, foi mais fácil a comunicação com os tchecos. 

QUASE FIQUEI PRESA NA TURQUIA

No verão de 2022, fomos para a Riviera Turca, na região da Antália, para tomar um pouco de sol e desfrutar do mar. Ficamos em um resort all inclusive e fizemos alguns passeios para conhecer a região.

Chegando no resort, todo mundo falava muito bem inglês e alemão (alguns falavam até russo). Eles recebem sempre muitos turistas da Alemanha, da Suíça e de outros países da Europa. Meu marido é quem, geralmente, se encarrega da comunicação (check-in, marcar passeios e tal) e com ele todo mundo falava em inglês ou em alemão. 

Já no primeiro dia, um dos trabalhadores do hotel me viu e veio me perguntar alguma coisa em turco. Eu não entendi nada, claro, e pedi para ele repetir em inglês. Ele me olhou estranhado e perguntou: not turkish girl? “Você não é turca”. Eu respondi que não, que era brasileira. Ele ficou sem acreditar e disse que eu tinha cara de turca. Achei um pouco estranho, mas não dei importância. 

O problema veio depois, quando a maioria dos trabalhadores do hotel falavam com meu marido em inglês ou alemão e, quando iam falar comigo, mudavam para turco. Absolutamente todos achavam que eu era turca e, quando eu explicava que não era, eles diziam que eu tinha cara de turca.

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Chegando o dia de ir embora, já fomos com medo de acontecer a mesma coisa no aeroporto. Chegando no check-in, quando foi a nossa vez, entregamos os dois passaportes, o do meu marido é italiano e o meu espanhol. A moça que estava atendendo fez o check-in do meu marido sem problemas, mas quando chegou a minha vez, ela ficava olhando o passaporte com desconfiança, até que chamou outro colega de trabalho e os dois foram para atrás conferir se meu passaporte era verdadeiro. Na hora, gelamos de medo (era 4 horas da manhã, sem chances de um consulado nos atender, caso precisasse). Graças a Deus, no final, eles voltaram com meu passaporte e nos liberaram. Seguimos com medo para a fila da imigração e, graças a Deus, o mesmo homem que nos tinha atendido na chegada, foi quem nos atendeu na saída. Ele lembrava de nós e deixou a gente passar sem problemas. 

Agora, mesmo com vontade de voltar para a Turquia, sinto medo de ficar retida lá por acharem que sou turca e que meu passaporte é falso.

E você? Já passou algum perrengue em viagem? Conte para nós nos comentários.

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